Onde teria ficado a antiga ordem
das coisas? A madureza
que era contida em cada coisa
inclusive na novidade dos corpos
no sopro guardado dos corpos
agora enterrados sob um cortejo
ensurdecido numa
esquina vazia ali além.
O soluço colhido com cuidado
do fundo do poço
pelas mãos de orvalho e capim.
Noite de estrelas contadas
com a verruga dos dedos
desejo vagalumeando cantiga.
Quantos quintais confortam saber
que as roupas secavam ao sol?
A morte ocupa os quartos
onde ontem se amava.
Bebericar tudo num copo de requeijão.
Onde teriam ficado as promessas
as indecências os desgostos
os desfalecimentos a impaciência
o insípido da saliva os ritos os (des)maios
o calor de dezembro o tamborilar
de agosto o mensurável
das casas das ruas dos postes
elétricos das árvores dos becos obscuros
das calçadas dos portões dos
telhados dos muros das praças
onde vestidos roçavam
cabelos ventavam bocas riam-se
as mãos dadas tudo tão forte
que não tem mais volta?


*

poema do livro cartilha, disponível aqui



2 comentários:

Lázara papandrea disse...

Que lindo! lúcido e bem escrito

Felipe Mendonça disse...

Que poema lindo. Quanta nostalgia. Adorei!