Trabalhando os dias
com a mesma febre
de um pintor minimalista
os olhos salpicados de realidade
esplendem uma ponte calma
de esperança e horror
pra lá de um horizonte
disforme ainda.

Num céu que não se situa
teus olhos traçam
o necessário pássaro
a pressentir suas asas
na cage d'amour
no fio do anzol
no vazio macio e inescapável
de um anjo vestido de azul








preciso sempre
desse tempo a perder
dessa chama suicida
que se extingue
e se consome
com a própria
língua

só assim se exercita
a espera o quieto cais
que surge após
o caos
mar propício
onde lançar
estas cinzas frias







A gente inventava um mapa e alguém confiável dentro do grupo enterrava o tesouro num lugar dificílimo. Era quase sempre uma coisa conhecida de todos, sem nenhum mistério o apanhado de todas as nossas bolas de gude, alguma tosca coleção de selos, a soma das mesadas ou dinheiro recolhido. O que importava não era o valor ou a raridade do tesouro, tampouco sua simples posse. O que realmente divertia e mais excitava era a quase interminável procura pelo xis.

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poema do livro cartilha, disponível aqui